Campo Grande vem passando por mudanças estruturais que aquecem o setor imobiliário. Nos últimos anos a cidade experimentou um crescimento expressivo em empreendimentos voltados ao público de média e alta renda, como condomínios fechados. Para falar sobre este assunto, o Jornal Eletrônico de julho trouxe como entrevistado o diretor do Secovi (Sindicato das Habitação), Marcus Augusto Netto.
P – Como os impactos das obras de urbanização são sentidos no mercado?
R – Tenho um exemplo bem claro de como isso ocorre, que é o Jardim Polonês, próximo ao Carandá Bosque e que não tinha acesso. Quando foi aberta a Via Parque ele atingiu o preço da região. Costumo dizer que às vezes o imóvel está com valor baixo, porque não tem estrutura no entorno, como asfalto, e quando se faz urbanização se atinge o preço da região. Os lotes não ficaram mais caros, não há supervalorização. É uma acomodação à realidade do mercado. Ali não é mais caro que o Carandá, que é ao lado, mas os preços se aproximaram. Encosta na média de R$ 200 a R$ 220 o metro quadrado, como é o caso dos que estão próximos da Via Morena e similares. Antigamente nem se tinha referencia de preço.
P – Que tipos de empreendimento têm crescido mais na cidade? O imóvel é um investimento seguro?
R – O mercado de Campo Grande tem comportado grandes empreendimentos, é muito poderoso. Nos últimos três anos temos 2,5 mil lotes de padrão médio e alto nos últimos lançados na Capital. É um mercado respeitado porque é a poupança da classe média e média alta. Tem componente de investimento com reserva de capital muito forte. As ações ninguém entende como funcionam; o dólar é uma loteria, não se sabe se vai ganhar ou não. Além disso, como o ouro é preciso ter onde guardar. O mercado imobiliário é muito equilibrado, não explode de uma vez e não derruba seus preços. O imóvel é um investimento mais seguro e tem rentabilidade boa.
P – De que a cidade ainda carece?
R– Temos ainda regiões em Campo Grande que estão decadentes, como o entorno da Calógeras, próximo a Avenida Mato Grosso. No momento em que se fez a ligação com a Fernando Corrêa da Costa aquele trecho foi anulado. Existe um projeto da prefeitura de revitalização do centro e a Via Morena que vai levantar essas regiões. A prefeitura vai investir no parque da antiga Estação Ferroviária, no Centro. É onde somente a prefeitura tem condições de entrar e revitalizar e há um projeto bom nesse sentido. É preciso fazer com que aquela região seja mais ocupada, as pessoas participem mais da vida da cidade. Aqui na frente do Shopping Campo Grande o Parque das Águas também será muito importante.
P – De que forma o Secovi tem atuado?
R – As ações do Secov são pontuais. Atuamos na Lei do vereador Athayde Nery, que fala da hidrometração individual. Combinamos que seria para os novos prédios, mas existe um trabalho de convencimento dos síndicos e condôminos para fazerem essa hidrometração individual. É uma técnica que não é muito cara e proporciona barateamento de 30% a 40% no consumo de água. Sou também conselheiro no CDMU, do Conselho Estadual das Cidades e represento a federação nacional do Secov. Fomos relatores do Plano Diretor, temos uma atuação pontual, sabemos que o patrimônio das pessoas é o móvel. Quanto aos vazios urbanos, por exemplo, são problemas criados no passado e dos quais a população nem participou. Acreditamos que não se deve remediar com medidas radicais como IPTU progressivo, que cria um trauma nas pessoas. A política que temos usado e que tem funcionado, que pactuamos no Plano Diretor de 1995, é de combater os vazios urbanos não deixando que eles aumentem.
P – Qual a importância da parceria entre Secovi e o CRECI?
R – O CRECI, o Sindicato dos Corretores de Imóveis e o Secovi são um grupo único porque se alguma coisa afeta o Secovi afeta o CRECI, de uma forma ou de outra. Estamos sempre juntos e temos uma característica em Mato Grosso do Sul invejada no Brasil inteiro: as três entidades atuam em harmonia há pelo menos 15 anos. Essa parceria e forma de agir em conjunto mostram amadurecimento das lideranças e ao mesmo tempo há apoio integral da classe. Temos conseguido avanços, nossa voz é bem ouvida porque não estamos preocupados em cuidar só do nosso umbigo e sim da cidade, que é nossa pérola, nosso patrimônio.